31/07/2023 às 10h29min - Atualizada em 31/07/2023 às 22h01min

Um olhar atento ao Tráfico de Pessoas

REPAM
REPAM

*Rose Bertoldo

 

O tráfico de pessoas ainda é uma realidade muito invisibilizada, mesmo que ao longo desses últimos anos tenha-se dado uma atenção especial na dimensão da prevenção. Quando falamos de tráfico de pessoas percebemos o grande impacto na vida das vítimas desse crime, pois não é só a pessoa que sofre violência e o crime que é atingido e sim toda a família, então isso requer uma atenção.

Na Amazônia o Tráfico de Pessoas acontece em diversos espaços, em diversas regiões, e nas regiões de Fronteira tem um índice maior por conta da dificuldade de fiscalização. E nesse trânsito livre que as pessoas têm que acontecem as abordagens, nas BRs existe uma certa fiscalização, mas nos rios isso é bem menor, então favorece o aumento dos casos de tráfico de pessoas.

A Igreja vem acompanhado nesses últimos tempos os casos, Rede Um Grito Pela Vida, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão de Enfrentamento ao Tráfico Humano, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) acompanha essas  denúncias, o caso mais recente foi um processo emigratório ilegal de crianças e adolescentes indígenas que foram levadas do município de São Gabriel da Cachoeira à Turquia. Isso vem acontecendo em vários lugares, e é muito invisibilizado e muitas vezes as pessoas não reconhecem isso como crime do tráfico de pessoas, as pessoas que são vítimas do crime não se reconhecem.

Haja vista todo esse processo com os jovens de São Gabriel da Cachoeira a Polícia Federal só categorizou como crime de tráfico de pessoas porque houve uma grande incidência por parte da Rede Um Grito Pela Vida de outras instituições que passaram muito perto e pela sensibilidade do agente da pastoral, do agente da polícia federal que teve esse olhar e configurou esse crime como crime de tráfico de pessoas. 

De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2020 o estado do Amazonas registrou 60 notificações de tráfico de pessoas, porém, a Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual no Brasil apontou que a região Norte possui a maior concentração de rota de tráfico do País, com cerca de 76 rotas, o que sugere a subnotificação dos casos. Não se  tem os índices exatos, mas sabemos que o desaparecimento de crianças e adolescentes é um resultado do Tráfico de Pessoas, além da realidade de exploração sexual, de pessoas que acabam caindo nessas redes de exploração e  tráfico não são registrados. 

Se analisarmos  como é feito o tráfico de pessoas no Brasil e no mundo, eles são muito semelhantes, nesse processo de mobilidade as pessoas vão em busca de trabalho em busca de uma vida melhor, então acontece através de uma proposta de trabalho. O que as pessoas não conseguem entender é que por trás dessas propostas vantajosas pode acontecer o crime, elas podem ser as vítimas e principalmente na região amazônica os maiores índices são de exploração sexual, de servidão doméstica e do trabalho escravo, eles aceitam um convite no intuito de realizar seus sonhos e caem em uma situação de exploração. 

Os impactos são enormes, quando a pessoa consegue voltar ela tem que recomeçar a vida, com suas forças, e não tem ajuda do Estado isso é uma preocupação grande na questão das políticas públicas. É necessário  pensar o quarto Plano Nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas,  pois o terceiro plano já está muito desatualizado, retomar a questão dos comitês estaduais de enfrentamento que nos últimos 4 anos acabaram não funcionando, estamos lutando muito para implementar essas políticas porque se não tem os comitês organizados não tem os planos, nem o Nacional e nem o Estadual.  É urgente se pensar por exemplo as políticas, os recursos para o atendimento às pessoas vítimas desse crime,  retomar os comités, os postos de atendimento avançado na região Amazônica, isso era muito bem implementado e nesses últimos 4 anos foi se perdendo.

Na minha experiência, quando a gente atende uma pessoa vítima do tráfico, para fins de exploração sexual,  trabalho escravo ou até  questão da retirada de órgãos provoca uma indignação muito grande e ao mesmo tempo nos impulsiona para continuar o trabalho de prevenção, quando a gente fala do tráfico de pessoas na região amazônica a gente se dá conta de que esse crime do tráfico de pessoas ele está ligado a dois outros grandes crimes que é o tráfico de drogas e o tráfico de armas que se mesclam com a questão do narcotráfico e isso a gente tem percebido uma inter-relação muito grande, por que na região amazônica isso é muito forte por conta também da extensão geográfica e falta de fiscalização e também de políticas públicas. O crime tem-se intensificado muito mais nas regiões de garimpo, infelizmente o governo não tem tecido olhar para essa realidade dos crimes que acontecem, principalmente a questão do abuso e exploração sexual, porque muitas das meninas, jovem, mulheres são aliciadas para os garimpos para trabalhar como cozinheira, para fins de exploração sexual e configura para o tráfico de pessoas.

As instituições da sociedade civil, Rede um Grito pela Vida, Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano,  Comissão de Justiça e Paz realizam um trabalho de prevenção, dando visibilidade a realidade do tráfico de pessoas e atuando muito junto aos grupos, a Pastoral da Juventude, catequese fazendo a prevenção e sobretudo um trabalho intenso nas escolas nas escolas públicas tanto do Estadual como do Municípal para alertar a juventude e também a sociedade. São através das campanhas que concientizamos,  cuidamos, dessa realidade as datas de, 18 de Maio que se trabalha a prevenção Abuso Sexual, a questão do Tráfico de Pessoas no dia 30 de julho e também o dia 23 de setembro que é o Dia Mundial de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas são parte desse trabalho atento das comiissões. 


Rose Bertoldo  - Membro do Grupo de Mulheres da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e secretária executiva do Regional Norte I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Irmã Rose Bertoldo atua há mais de 10 anos na Amazônia. É religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria e integrante da Rede Um Grito Pela Vida
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://jornaldobelem.com.br/.
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp